| por Pedro Igor, Amanda Oliveira, Lindemberg Bernardo, Lucas Dutra e Vanessa Alves
Em 31 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde emitiu um alerta de Emergência de Saúde Pública Global em virtude de uma nova cepa viral surgida na China no último dia do ano anterior. Assim começava a pandemia de covid-19, mudando completamente a vida cotidiana pelos próximos meses e anos. Vidas foram perdidas após a infecção pela doença. Mas vidas também foram ceifadas, não pela doença, mas pelos eventos decorrentes dela.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em quase um ano, entre o último trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2020, o setor cultural brasileiro declinou em quase 1 milhão o número de postos de trabalho, indo de 5,5 milhões para 4,6 milhões de empregados. São vidas de artistas, músicos, atores, mas também de porteiros dos teatros e outras peças importantes na cadeia produtiva da arte. Vidas que foram perdidas para a pandemia.
A cultura brasileira já vivia uma era de estagnação. Ou melhor, destruição. A extinção do Ministério da Cultura durante o governo de Jair Bolsonaro, amplamente criticado por outras ações, resultou numa desestabilização da política cultural conquistada há anos. Simone Gadelha, pesquisadora da cena musical independente vinculada à Universidade Federal do Ceará (UFC), define o atual cenário como “desolador” diante dos empreendimentos do governo mais contrários do que favoráveis à cultura. Simone também destaca a onda de desinformação já enfrentada pelo setor.
Mas Simone, ou Mona como prefere ser chamada, também reflete que a pandemia pode ter sido sim produtiva. A pesquisadora destaca o quanto a criatividade se expandiu durante esse período, abrindo espaço para novos talentos no TikTok e outras plataformas, por exemplo. Simone avalia que embora o cenário pandêmico tenha sido desesperador, a música independente ainda pode criar.
A pesquisadora não descarta as dificuldades enfrentadas pelo mercado musical independente durante o período de pandemia. Afinal, a música independente, como define, não está vinculada ao mainstreaming, às multidões, às grandes gravadoras e etc. Por isso, é uma indústria cheia de nuances e experimentalismos que se diferem da grande indústria em si. Simone lembra que durante a pandemia as atividades foram paralisadas e coube aos artistas se reinventar. Ela lembra que o advento das lives foi essencial para conseguir superar esse momento: “Foi por um lado um aspecto de resistência e ao mesmo tempo muito interessante porque ao invés de fazer um show para um público específico numa casa de show ou teatro, passou-se a transmitir um show para qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo que tivesse acesso à internet".
Reinventar-se virou quase um neologismo durante a pandemia. Tal palavra, assim como tantas outras, foram ressignificadas e hoje já não tem mais o mesmo sentido de dois anos atrás. Da mesma forma, cada um de nós está completamente diferente de dois anos atrás. Foi preciso se reinventar, para continuar a criar, assim como Simone destacou. Por isso, conversamos com três artistas independentes de Fortaleza para saber como cada um deles se reinventou durante a pandemia.
PERFIL
Léo Costa - Vivendo e aprendendo
“A maior dificuldade durante os lockdowns, para mim, era garantir que os locais que eu tenho parceria estivessem abertos”, pondera Léo Costa, produtor de festas que tenta se reinventar diante do cenário pandêmico
| por Lucas Dutra
Caike Falcão
“Enxergar negócios dentro do seu negócio” é a estratégia e o conselho do músico Caike Falcão, 28, para trabalhar com arte em meio à pandemia do novo coronavírus
| por Vanessa Alves
Daan Limma
O cantor e produtor procura organizar bem sua vida dentro e fora da música, com o objetivo de viver do seu trabalho artístico
| por Amanda Oliveira
A recuperação do setor musical independente: indícios e previsões
No segundo trimestre de 2021, o setor cultural já empregava 5 milhões de pessoas, números bem próximos aos de 2019, de acordo com o IPEA. A música padeceu durante a pandemia, mas aos poucos com a retomada das atividades e graças aos incentivos fiscais emergenciais da Lei Aldir Blanc, aprovada no final de 2020, foi possível seguir em frente. Simone Gadelha reitera a importância da Lei nesse período, pois sem esse incentivo, o setor teria padecido ainda mais, segundo a pesquisadora. Ouça:
A indústria da música independente pressupõe uma grande liberdade por parte do artista em quase todo o processo criativo e empresarial, como reforça Simone. Mas é claro para ela que o maior sonho de todos os músicos e artistas independentes é ter reconhecimento. A pesquisadora vê com esperança o pós-pandemia. Ela acredita que será um momento para conseguirmos assimilar tudo que foi aprendido, os desafios que foram superados e os que não foram, e assim poder mais uma vez seguir em frente. Só que dessa vez com um suporte mais amplo gerido pelas redes sociais e pela internet, para assim cada vez mais artistas alcançarem seu tão sonhado reconhecimento.
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